François Muleka - Flávia Luiza

Teu confuso horário sempre me atrasa
Pesos, medidas e satélites
A topografia do teu rosto
Me exibem a todo tempo em cálculos loucos
A gravidade é o que me planta ao teu lado
E se convier, por muito tempo
Tenho com certeza quase todas as razões para dizer
Que você é meu mundo
Mas falta rodar

Contra a correnteza nós seguimos juntos
Mesmo que a mão esteja cansada
É cachoeira atrás do morro
Desemboca ali na frente
Onde o mar beijo o rio
O vento e a ressaca me assustavam
Mesmo sendo ilhéu, mas tudo bem
Tenho com certeza quase todas as razões para dizer
Que você é meu remo
Mas falta o meu barco

Imperceptível um tanto peristáltica
Pelo meu eu você se diverte
Cafunézinho no pescoço
Me explora em toda pele
Mesmo o fim dos confins
Membro ilusório que já não estava lá
Ainda que estivesse a todo tempo
Tenho com certeza quase todas as razões para dizer
Que você é meu corpo
Mas faltam os meus braços

Por todos os lados você se espalha
Eu me atrapalho e desconcentro
Se eu procuro cê já foi
Se eu pergunto cê não diz
E me olha estranha
São sensações que não dão pra controlar
Mesmo se desse, o que é que tem?
Tenho com certeza quase todas as razões para dizer
Que você é meu tudo
Mas falta o meu nada

Feito um delírio do qual não se escapa
E cujo absurdo é evidente
Você se aproxima sorrateira
Caladinha, vem na manha
E eu finjo que não vi
Cores misturadas que não dá pra entender
Mas tanto faz, no fim dos tempos
Tenho com certeza quase todas as razões para dizer
Que você é meu sonho
Mas falta acordar!